O que é ansiedade

Ansiedade é o nome que damos para a emoção que se segue à percepção de que estamos sob a ameaça de alguma punição. Portanto, ansiedade é a emoção que antecede à perdas (Graeff, Guimarães e Deakin, 1993). E só consideramos como perda a ausência daquilo que julgamos como, um dia, tendo sido nosso. A ansiedade é cadeia de comportamentos reflexos, cognitivos e comportamentais, independentes de nossa vontade, a maior parte das vezes inconscientes do individuo que a vivencia. Tem a função de aviso de que podemos fugir de punição ou nos esquivar de uma frustração futura. Assim, possui valor de adaptação para o ser humano. A ansiedade (assim como o amor, a raiva e o medo) nos mobiliza para a vida, aumenta nosso grau de vigília, amplia nossa capacidade de ação sob estresse, aumenta nossa percepção e memória para estudar e falar com cuidado, possibilita a escolha do repertório certo para uma plateia crítica ou para dirigir com prudência. São reações úteis e nem sempre desagradáveis. Podem ser até mesmo prazerosas, como assistir a filmes de suspense, ver corridas, praticar alpinismo, brincar numa "montanha russa". São todos comportamentos que produzem medo e ansiedade e, ao mesmo tempo, trazem prazer. A ansiedade é uma experiência universal, e que pode se manifestar de várias maneiras, em acordo com a história de vida de cada pessoa. Comumente percebemos a existência de ansiedade por comportamentos expressos, tais como: fuga, imobilidade, agressão (defesa agressiva) e/ou submissão (Bernick, 1989). Cada um destes grupos de comportamentos é acompanhado de alguns padrões de emoções.

Fuga

Normalmente associada à emoção conhecida como "medo", é a reação típica mais freqüente e ocorre quando o organismo se julga estar diante da perda, ou situação "ruim". Ela pode ser ativa, quando o indivíduo evita uma situação presente que lhe causa aversão. Ou pode ser passiva, que é quando evitamos qualquer coisa que tenha sido associada a antigas punições, os quadros fóbicos (ou pré-fóbicos) podem servir como exemplo nesses casos.

Imobilidade

Se a fuga pela ação não é possível, então se pode tentar fugir passivamente. Nesse caso, aparece o desmaio (com bradiquicardia e queda de temperatura corporal, que são associadas à palavra "negação", esta será mais bem explicada no item da Depressão). Às vezes não aparece desmaio, mas a pessoa , mesmo acordada e consciente?trava?. Quando o perigo é iminente, incontrolável, súbito e potencialmente letal, é possível que o corpo entre neste estado de imobilidade, com paralisias funcionais parciais ou gerais. Existem registros de mortes por parada respiratória ou cardíaca ("morte de susto"), mas devemos lembrar: isto só ocorreria diante de, por exemplo, estar sob a iminência de um tsunami, ficar preso dentro de um incêndio, cair de alturas imensas, etc. O que ocorre é uma súbita descarga em over dose, de endorfinas, que literalmente anestesiam a pessoa.

Defesa agressiva e auto agressão

Na defesa agressiva, o indivíduo "blefa" com uma postura corporal agressiva contra atacantes potencialmente perigosos. É uma atitude de se "arriscar", que os animais tomam apenas em situações extremas, por exemplo, quando uma fêmea de coelho defende os filhotes contra uma raposa, ela apresenta uma postura de coluna vertebral arqueada, o que faz seu tamanho aparentar ser bem maior. Ou por exemplo, quando uma mãe (humana) defende o filho contra o pai que o ameaça, colocando-se à sua frente e alargando seu tórax de modo a esconder a criança atrás de si. Nós, seres humanos, primatas superiores, herdamos o contato visual direto como uma forma de comunicar superioridade e gerar ansiedade social nos membros mais inseguros e, ou, inexperientes. Já a agressão ocorre em última instância. É sabido que os animais só agridem quando não têm outra forma de fugir do ataque a que se julgam ou estão submetidos. Um leão só atacará se sentir ameaçado, doente ou com muita fome, e, mesmo assim, dificilmente o fará sobre uma fêmea prenhe ou que esteja amamentando. As agressões nos homens são mais freqüentes que nos demais primatas. As "defesas agressivas" verbais e posturais logo se caracterizam em ataques verbais ofensivos e, ou, corporais lesivos, os quais levam à imobilização do oponente. (Vide o número de agressões "gratuitas" registradas pela mídia).

Submissão

É o oposto da postura de ameaça e visa desviar a "intenção" de ataque. Há várias situações em que vemos, em nossa sociedade, o ser humano usando estratégias "diplomáticas" que "desarmam" seu agressor. É preciso diferenciar dois tipos de submissão: a real e a estratégica. Na real, o indivíduo se abandona diante do agente estressor, deixa de lutar e se crê realmente um perdedor. Desiste e deprime-se. Na estratégica, ele avalia suas chances, a situação, seu opressor e tenta descobrir maneiras de conhecê-lo melhor. Para isso, ele precisa de tempo e ganha esse tempo tornando-se aparentemente submisso, para tentar resolver a ocasião conflitante geradora da ansiedade. Essa estratégia só é possível entre indivíduos da mesma espécie; quando ocorre na natureza, raramente o submisso sobrevive; mas entre os macacos, é possível observar uma postura de "sedução" quando estão sob domínio, nas fêmeas por meio do sexo e nos machos jovens pela oferenda de comida. (Costa, 1998, comunicação pessoal). No entanto, nossas emoções podem sofrer alterações e se desregularem como qualquer outra função do organismo. Quando isso ocorre, a ansiedade, ao invés de propiciar adaptação, estabelece riscos sociais à pessoa que a vivencia, impedindo-a de perceber perigos reais que a ameaçam e, ou, levando-a a ferir regras sociais, as quais devemos seguir (ou que se espera que sigamos).

Estresse na Ansiedade

estresse-ansiedade A Física descreve o estresse como o total de forças que agem contra uma resistência. No caso psíquico, essa definição inclui toda e qualquer solicitação boa (eutresse), ou má (distresse), que provoque reação no indivíduo. No caso do distresse sabe-se que há um desequilíbrio hormonal que provoca comportamentos disfuncionais, estes, por sua vez, retroalimentam a disfunção, tornando-se um "bolo de neve". Tais transformações, quando em excesso, levam à diminuição das respostas cognitivas. Alves (1992) afirma que diante de qualquer situação que julguemos estressora temos uma reação psicofísica, batizada de Síndrome de Adaptação Geral ou Estresse. Essa síndrome inclui quatro partes ou estágios (Lipp, 2000) conforme a sequência:

Estágio de Reação de alarme

? reconhecimento da situação estressora que leva a reação;

Estágio de resistência

? o organismo procura em seu repertório ações, que no passado, ajudaram a dispersar o perigo.

Estágio de intermitência ou Quase Exaustão

? quando o estressor não é eliminado na fase de resistência, e se prolonga, o organismo aparentemente, desiste, mas logo depois o organismo busca outra alternativa. Se esta fase se prolonga o estresse vira crônico com consequências graves a pessoa e ao meio ambiente em seu contexto.

Estágio de esgotamento ou Exaustão

- Se ocorreu fracasso na supressão do estressor, ou se pensarmos que não teremos sucesso, este se intensifica, podendo dar origem a doenças ou a comportamentos de negação ou fuga. Existe estreita relação entre a forma de enfrentar o estresse e a forma como nos desenvolvemos dentro de nossa cultura. A ansiedade excessiva nos faz dissonantes, tensos, confusos e leva-nos a perceber nossa existência como sem finalidade, de tal forma que vêm a ser extremamente desagradável, isso pode explicar por que as pessoas se autoadministrem, erroneamente, doses de medicamentos para aliviar essas emoções que lhes fazem perder o controle da própria existência.

Efeitos Físicos e Psicológicos

Os efeitos da ansiedade podem ser notados fisiologica, motora e psicologicamente:

Fisiológicas

Aumento na produção de neuro-hormônios como: cortisol e adrenalina; Expansão no volume dos vasos sanguineos; Aumento na pressão arterial, ritmo cardíaco e taxa respiratória; Aumento da condução cutânea (o famoso "dar e receber choque" ao tocar em um objeto ou pessoa). Placas avermelhadas na pela, principalmente colo e face.

Motoras

Tremores musculares; Hiperatividades; Desorganização motora; Baixo limiar para respostas motoras ("sobressaltos" e tremores), Evitação ou afastamento;

Subjetivas (acessíveis graças ao relato verbal)

Apreensão, Preocupação, Previsão de ameaças e Sensações de medo, particular ou generalizado.

Cognitivas

Formação de crenças "explicativas" aos distúrbios, que podem ser racionais ou irracionais. (Beck, 2004)

Sugestões de Leitura

Alves , G. L. B. (1992). Stress ? Diagnóstico e tratamento. Curitiba/PR: Relisul. Bandura, A (1969). Modificação do Comportamento. Rio de Janeiro/RJ: Interamericana. Barros Neto, T. P. (1999) Sem medo de ter medo. São Paulo: Casa do Psicólogo Bernick, M. A (1989). Ansiedade. Revista Brasileira de Medicina. Vol. 46, no  4, p. 99. Corassa, N. (1996). Síndrome do carro na garagem. Suplemento Viver Bem da Gazeta do Povo. Ano XIII, n. 661, p. 24. Corassa, N. (1996) Medo pede carona. Revista Veja. Ano 29, n. 44, p. 100. Corassa, N. e Mestre, M.B.A. (1998) Síndrome do Carro na Garagem, Fobia de Dirigir. Pôster apresentado no VII Encontro da Associação Brasileira de Psicoterapia e Medicina Comportamental. Campinas, São Paulo. Corassa, N. (2000). Vença o medo de dirigir - como superar-se e conduzir o volante da própria vida. São Paulo: Gente. DSM-IV (1994). Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. Eysenck, H.J. (1977) Você e Neurose. Rio de Janeiro/RJ: Zahar. ___________ (1966). Fato e Ficção na Psicologia. São Paulo/SP: Ibrasa. Falcone, E. (1995). Cap. 14 A relação entre o estresse e as crenças na formação dos transtornos de ansiedade. Em Zamignani, Vol. 3: Sobre Comportamento e Cognição. Santo André/SP: ARBytes. Franz, ML e Hillman, J. A tipologia de Jung. São Paulo/SP: Cultrix. Graeff, F.; Guimarães, F. e Deakin, J. (1993). Serotonina: a molécula da ansiedade e da depressão. Ciência Hoje. 16, p.50-7. São Paulo/SP Gray, J. (1976). A Psicologia do medo e do ?stress?. Rio de Janeiro/RJ: Zahar. Hunziker, M.H. L. (1977) Efeitos da exposição prévia a choques não contingentes sobre aquisição do comportamento de fuga como função de algumas dimensões da resposta. Dissertação de mestrado apresentada à USP-SP. Luduvig M.M (1995). A célula da vida. Saúde Vital. São Paulo/SP: Abril. Pp. 8-16. Maier, S.F. e Seligman, M.E.P. (1976). Learned Helplessness: Theory and evidences. Journal of Experimental Psychology: General, 105, 3-46. Mestre, M. (1996). O Desamparo aprendido, em ratos adultos, como função de experiências aversivas incontroláveis na infância. Dissertação de Mestrado apresentada à USP-SP. ___________ (2000). Da ansiedade à fobia. Psicologia Argumento, ano XVIII, no XXVI, abril. Curitiba/PR: Champagnat. Pp. 105-126. Pereira, C. e Peluso, L. (1995). Trabalhe, mas não morra. Isto É. No 1349 São Paulo/SP. Pp. 100-4. Rangé, B. (1975). Uma análise da teoria bifatorial como explicação da fobia. Dissertação de Mestrado em Psicologia Experimental apresentada à PUC-RJ, sob orientação da professora Dr. Thereza Pontual Lemos Mettel. Rio de Janeiro. Ross, A. O. (1979). Distúrbios psicológicos na infância. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil. Seligman, M.E.P. (1977). Sobre Depressão, desenvolvimento e morte. São Paulo: Hucitec. Skinner, B.F. (1978) Ciência e Comportamento Humano. São Paulo/SP: Brasiliense. __________. (1991). Questões recentes na análise do comportamento. Campinas/SP: Papirus. Vasconcellos, E. G. (1990). Cap.2 O modelo psiconeurológico de estresse. Em Seger, L. Psicologia e Odontologia. São Paulo: Santos Versiani, M. Nardi, A E. Mundim, F.D. (1989). Fobia social. Jornal Brasileiro de Psiquiatria. 38 (5): 251-63. Wolpe, J. (1976). Prática da Terapia Comportamental. São Paulo/SP: Brasiliense.