Depressão

A depressão é um sentimento de tristeza excessiva que se tem após a percepção ou vivência de perdas. Este sentimento pode resultar no enfraquecimento do repertório comportamental de um indivíduo, além de provocar reações reflexas (incontroláveis) desagradáveis, pensamentos negativos sobre si mesmo ou os outros, e comportamentos motores socialmente desaprovados.

Causas da Depressão

Embora esse conjunto de reações seja semelhante para a maioria das pessoas a que se reconhecer no mínimo quatro causas diversas entre si: Depressão maior - ocasionada por ausência ou deficit de neurohormonios (ocitocina, dopamina, serotonina entre outros) que prejudicam o funcionamento neurológico, e portanto, precisa ser tratada com medicação com acompanhamento psiquiátrico e/ou neurológico. Em alguns casos a depressão maior aparece associada doenças físicas como o Mal de Parkinson, disfunção hormonal sexual e do Mal de Alzheimer. Luto - reação normal diante de perdas biopsicosociais. Alguns autores colocam que tal reação tende a diminuir no prazo proporcional à perda sofrida, por exemplo, a morte de uma pessoa amada é normal uma persistência de tristeza profunda pelo prazo de mais ou menos um ano, os outros comportamentos típicos da depressão desaparecem em acordo com o repertório de experiências passadas de cada um. Desamparo aprendido - há situações em que a aprendizagem de autocompetência foi prejudicada ou impedida pelos estilos parentais de negligência, monitoria estressante, punição incosistente e ou abusos (fisicos e psicológicos), e com isso pode levar a pessoa a não saber como resolver problemas do dia-a-dia e desenvolver fuga-esquiva. Desistência - após um período prolongado de exposição a estressores os quais não se tenha (ou considere que não tenha) repertório para removê-lo levam a um desgaste neurológico similar ao da depressão maior, e simultaneamente ao quadro cognitivo desenvolvido pelo desamparo. As três últimas causas podem com o tempo ficar associadas a depressão maior, pois, acabam por diminuir a produção dos hormônios e com a depressão instalada gastam o que possuem. O senso comum diz que todo depressivo é ansioso e a depressão aparece como consequência àquela. Mas nem todo ansioso se tornará depressivo.

Sintomas da Depressão

A abordagem comportamental não se baseia nas classificações e sintomatologias especificadas na psiquiatria. Na área médica (DSM-IV), a depressão tecnicamente é classificada como Síndrome de Desordem Afetiva ou Síndrome do Humor Deprimido. O diagnóstico é obtido a partir de relatos de comportamentos, como:
  • Tristeza intensa;
  • Passividade;
  • Agitação;
  • Autodepreciação;
  • Pessimismo;
  • Falta de entusiasmo;
  • Perda ou intensificção do interesse sexual;
  • Insônia ou dormir demais;
  • Comer pouco ou em excesso;
  • Idéias ou atos suicidas.
Ao diagnosticar um quadro depressivo, o que interessa ao terapeuta comportamental é identificar a relação existente entre os comportamentos (respostas) e os eventos que ocorrem no meio físico e social do cliente. Para Beck, Rush, Shaw e Emery (1997), o quadro psicológico da depressão é baseado em três conceitos chaves, os quais consistem em padrões de como a pessoa encara a si mesmo, suas experiências e seu futuro:

Autoconceito negativista

A pessoa tende a evidenciar suas características negativas, pois as considera como defeitos psicológicos. Além disso, subestima ou critica a si próprio, pois acredita que não possui atributos necessários à obtenção do seu próprio bem-estar;

Interpretação negativista das próprias experiências

A pessoa deprimida tende a perceber solicitações do mundo como absurdas ou como obstáculos insuportáveis que representam total empecilho à realização de seus objetivos. As relações com o meio são visualizadas como fracasso ou privação;

Visão negativa do futuro

A pessoa deprimida prevê que seu sofrimento não irá acabar, não acreditando em possibilidades de sair das situações que a deixam deprimida.

Padrões de Pensamentos

Alguns tipos de "erros" freqüentes no processamento das informações pelos clientes deprimidos se assemelham aos padrões fixos de pensamento apontados por Lazarus (1977), e podem ser destacados:

Inferência arbitrária

Processo de conclusão, baseada em processo ilusório, que é contrário às evidências.

Abstração seletiva

Acontece quando a pessoa foca em apenas um elemento isolado, sem levar em consideração seu contexto, e toma decisões com base nesse fragmento.

Hipergeneralização

É o padrão mediante o qual o indivíduo chega a uma conclusão geral tendo se baseado em incidentes isolados, por exemplo: "Não vou a festas porque vão zombar de mim" - ou seja, ela acredita que todas as festas serão iguais, com as mesmas pessoas e situações.

Minimização e exagero

Referem-se a pensamentos errôneos ao se avaliar o significado ou gravidade de determinado evento que acontece na vida do cliente deprimido, ou seja, existe uma forte tendência a minimizar ou exagerar os acontecimentos, distorcendo-os da realidade.

Personalização

Trata-se de uma tendência do indivíduo a estabelecer relações entre si próprio e determinados eventos externos, quando não existem evidências que sustentem tais relações.

Pensamento absolutista dicotômico

Consiste em uma tendência a incluir todas as experiências em uma de suas categorias opostas, considerando-se somente o extremo positivo ou o negativo. Não existe meio-termo. O cliente, quando descreve a si mesmo, opta pela categoria negativa extrema.

Tratamento para Depressão

Para tratar a depressão é importante entender qual é a causa. Quando a depressão maior se manifesta o tratamento deve ser junto ao medico (psiquiatra ou neurologista), para que por meio de medicamentos a produção dos hormônios se normalize. Já para os casos em que a causa está no luto, no desamparo aprendido ou desistência, é válido expor a pessoa deprimida a situações em que o reforço é dependente da resposta, na terapia isso seria alcançado utilizando-se abordagens que lidam com o senso de eficácia do indivíduo, permitindo que este volte (ou comece) a acreditar que agir produz reforço. A análise dessa relação irá permitir ao analista do comportamento compreender o repertório comportamental do cliente, investigar sua origem e como ele se mantém. Feito isso, o terapeuta terá condições de ajudar o cliente a alterar seu repertório, possibilitando assim que ele consiga lidar com sua vida de maneira menos angustiante. (Hünziker, 1997). Em alguns casos será necessário o acompanhamento médico junto com a terapia, para que consiga dar o suporte químico para pessoa se organizar no novo modelo de vida. É importante salientar que os antidepressivos são medicamentos que ajudam o equilíbrio químico no cérebro, promovendo melhora gradual da depressão, porém não são a cura por apresentarem efeitos temporários, após seu uso é comum a depressão voltar, daí a importância da intervenção psicoterapêutica.

Sugestões de Leitura

Beck, A .T.; RUSH, J. A; SHAW, B.F.; EMERY,G. (1997). Terapia Cognitiva da Depressão, Porto Alegre, Artes Médicas. Ferster, C. B.; Culbertson S.; Boren, M.C.; Perrot (1979). Princípios do Comportamento, São Paulo, Hucitec. Lazarus, A A (1980). Terapia Multimodal do Comportamento - Atualização em Terapia do Comportamento, São Paulo, Manole. Lazarus, A A (1980). Psicoterapia Personalista - Uma Visão além dos Princípios de Condicionamento, Belo Horizonte, Interlagos. Mestre, M. B. A .; Hunziker, M. H. L. (1996). O Desamparo Aprendido, em Ratos Adultos, como função de experiências aversivas incontroláveis na Infância, Curitiba, Revista Tuiuti: Ciência e Cultura. Vol 6 nº 2. Nardi, A .E.; Saboya, E.; Figueira, I.; Mendlowicz, M.; Marques C.; Ventura, P.; Moraes, A .; Pinto, S.; Versiani, M. (1992). Abordagens Biológicas e Cognitivo - Comportamentais na Depressão, Rio de Janeiro, Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Série Psicofarmacologia 10, Vol.41. Rimm, D. C.; Masters, J. C. (1983). Terapia Comportamental, São Paulo, Manole Ltda. Seligman, M. E.P. (1997). Desamparo sobre Depressão, Desenvolvimento e Morte, São Paulo, Hucitec Ltda.